domingo, 4 de setembro de 2011

Plantando árvores

Ipê amarelo - Parque de Itapeva
Hoje a saudade de minha Mãe bateu ainda mais forte.  É que mexer na terra sempre lembra a sua alegria ao aguar as plantas... Tirei o fim de semana para me dedicar à terra. Enxadão e picareta, mudas de árvores e frutos no velho Fiat Uno pé-duro, vou eu para o Sítio Águas Claras sonhar com o amanhã. Cada cova cravada no chão duro, seco e arenoso me lembrava o sorriso dela ao lavrar o chão.

A terra aqui não é aquela terra boa, densa e prenha, das montanhas dos contrafortes do Pico da Bandeira onde ela nasceu. Pelo prado ralo, de um capim fininho que não conheço, vê-se que aquela fertilidade que tanto dava alegria a ela, pode não ser a mesma por aqui.

Solo duro, terra maltratada. Não sei reconhecer os sinais da terra como ela fazia, mas as marcas nos galhos secos mostram que a terra foi queimada há menos de um ano. No entanto, os brotos, verdinhos e tenros, mostram aquilo que sempre lhe entusiasmou:  a natureza segue seu curso, apesar de maltratada. Árvore, até quando está queimando, perfuma a terra. É esta generosidade de nosso planeta que nos encanta a todos, não é mesmo?!

Enfim trago as mudas do seu Geraldo, do viveiro do IEF. [IEF que está sendo desmontado por que, como tudo neste País, também aqui a corrupção destrói. O câncer da sociedade brasileira.] Ipês amarelos e rosas. É que, nesta terra árida do Sul de Minas, os Ipês me ensinaram uma coisa: A esperança é amarela! Verde não é esperança. É quando a chuva já iniciou a regar a terra e a vida se renova. É esperança concretizada. Os Ipês por aqui florescem, de um intenso brilho de todos os matizes, antes da chuva, quando a seca está mais causticante, quando nada indica que a natureza vai dar uma nova chance à vida. É como se a força da esperança trouxesse a flor e o fruto, contra toda a esperança! Me lembra Pedro Casaldáglia: Creio na justiça e na Esperança! Esta é a força que me impressiona hoje e sempre, e que nos move para frente.

Trago também Angico amarelo e Arueirinha como pioneiras, para adensar a mata. Jamelão, Calicarpa, Pitanga e Ameixa, para dar fruto, trazer os passarinhos, renovar a vida. E vi um enorme gavião, de 1,2 metros de envergadora, de penas brilhantes de um marrom escuro impressionante. Ele me encarou por longos cinco minutos e se foi, caçar, imponente e orgulhoso.

As covas, preencho com as minhas próprias mãos, como ela me ensinou. Quem sabe as minhas mãos também são quentes e boas para a terra, como foram as dela.

Semana que vem, venho com frutas para o pomar. Jaboticaba e Carambola, para lembrar do quintal de nossa casa, Mexerica Poncã e Laranja Serra D´Agua. Vou trazer também a Cana Caiana, para retirar garapa, ou simplesmente descascar os gomos, trincar as taliscas e sorver o caldo, sentado na varanda ao pôr do Sol.

Como disse a Miriam em sua coluna ontem, o tempo é muito breve. Sim, muito breve para todos os nossos sonhos e para a infinitude da vida!

Jamelão

 Calicarpa

3 comentários:

Denise Vasconcelos disse...

Que texto lindo, Ulisses. Belas palavras e memórias, eternos gestos com promessas de doces frutos numa suave vida. Sim, o tempo é breve, muito breve porque a infinitude está em nosso coração. Plante sempre. As sementes, certamente irão germinar. Já germinam as que sua amável mãe plantou no seu sensível coração. Parabéns por você ser quem é. Beijo

Desafios de uma vida disse...

Prof. Ulisse,
Boa tarde!
Estive visitando o seu blog, e há um material muito interessante. Gostaria de saber se é da região de São Paulo - Capital e ae tem disponibilidade para lecionar no período da tarde.
Obrigado.

maria oliveira disse...

Amei o texto , Ulisses, senti-me dentro dele qdo vc referiu a sua mãe que gosta de plantar, lembrei da minha tbém que amava tdo isto no meu sertão da Bahia, principalmente flores no seu quintal, hoje com 89 anos, não tem mais essa disposição do plantio, mas continua com o mesmo amor e apreciação. Escreve mto bem,viu? Tem amor no coração. Que bom me deparar com um texto desse..gde abraço, Parabéns