quarta-feira, 5 de setembro de 2012

GERES: destruindo dogmas sobre a educação

Evolução da proficiência em leitura - Fonte:  Geres 2005

Estudo longitudinal não é fotografia. É o registro cinematográfico da dinâmica do processo de ensino-aprendizagem! O Geres (www.geres.ufmg.br) é, até o momento, o mais amplo estudo longitudinal de avaliação educacional já realizado no Brasil. Sete anos de pesquisa, cinco cidades, quatro classes de escolas (privadas, municipais, estaduais e centros de aplicação associados a universidades federais), 300 escolas e, inicialmente, 21.529 alunos fizeram parte da pesquisa. Foram realizadas cinco "ondas" de avaliação entre 2005 e 2010. O projeto gerou diversas teses e dissertações neste período e acaba de ser publicado um resumo dos principais resultados.

Alguns achados são simplesmente impressionantes e destroem mitos e dogmas de nossa percepção sobre a realidade educacional brasileira.

A escola pública é ruim. A escola privada é boa. Certo? Não necessariamente!

A pesquisa mostra que a evolução do aprendizado nas escolas públicas e privadas é paralela. As velocidades da evolução do aprendizado são comparáveis. Os valores agregados pelo processo educacional são equivalentes em ambas as escolas. O grande problema reside no ponto de partida: os alunos da rede pública iniciam na escola com enorme defasagem em relação aos alunos da rede privada. Condição sócio-econômica, estrutura familiar, ausência de estímulo para leitura na primeira infância são algumas das explicações possíveis.

Os dados para a proficiência em leitura mostram que a escola pública faz o seu trabalho de correr atrás do prejuízo, mas não consegue diminuir significativamente a diferença. Assim, os alunos da rede pública chegam ao fim do primeiro ciclo educacional com defasagem de 1,8 anos/escola em relação aos alunos da rede privada.

A situação é mais complexa na proficiência em matemática. A pesquisa detectou uma desaceleração do aprendizado no segundo ano que compromete a formação dos alunos da rede pública com baixos níveis sócio-econômicos (NSE). Assim, na escala proposta, a diferença dobra nos três primeiros anos!

Evolução da proficiência em matemática - Fonte: Geres 2005

Os dados analisados pelo projetos Geres comprovam uma forte correlação entre o NSE e o rendimento escolar. Este dado, embora não seja surpresa, tem profundas consequências para as políticas de responsabilização e que não estão sendo observadas atualmente. Em especial, demonstram a inadequação do IDEB como índice para caracterizar a qualidade da escola, pois o índice é contaminado por fatores externos à escola. Uma medida educacional  necessária é a que estabeleceria uma mensuração do valor agregado pela escola, o efeito escola.  Entretanto, não existem indicadores e pesquisa educacional nesta área no Brasil. 

O Geres indica os caminhos para uma avaliação adequada da realidade escolar brasileira e, certamente, estará influenciando futuros estudos na área.

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