segunda-feira, 22 de maio de 2017

Temer, O Globo e o Estadão: o racha no projeto de retrocesso social

Outra vez, a luta pela democracia exige as ruas.

A semana nos surpreendeu com o princípio do fim de um governo que merece uma gama de adjetivos, todos negativos.

É um governo impopular. Interessante que tem amplo apoio da grande mídia e do empresariado paulista, mas bate recordes históricos de desaprovação popular. É um governo ilegítimo. Não passou pelo crivo do debate democrático e não passou pelo crivo das urnas.

No começo de seu fim, com a revelação de que Temer recebia nos porões do Palácio empresários investigados e se tornou cúmplice de crimes de corrupção,  no mínimo pela omissão, o governo retrógrado recebe críticas de seus antigos aliados. Para ler ambos os editoriais sugiro acessar o editorial do Jornal do Brasil em Link JB.

O Globo, em seu editorial de sexta-feira pede a renúncia de Temer, embora reafirme seu apoio às traquinagens das reformas antidemocráticas em curso. Assim mantém, pelo menos, uma aparente coerência. O jornal Estado de São Paulo, ao contrário, de forma despudorada, ironiza a exigência ética que o País reclama como sendo a causa da crise: "a crise é resultado de um encadeamento de atitudes imprudentes, tomadas em grande parte por gente que julga ter a missão messiânica de purificar a política nacional."

Ambos os jornais mentem ao querer sustentar que as reformas retrógradas do governo Temer são "projeto do povo brasileiro" como quer O Globo. 

Isto é uma mentira deslavada e uma distorção! Este projeto é o projeto de uma elite corrupta e arrogante que quer transformar o Brasil em uma sociedade de castas, como a Índia. Sim, por que incentivar o trabalho aos 14 anos de idade é a contramão da sociedade do conhecimento; destruir a oportunidade de uma Universidade Pública e gratuita, com um ensino de nível internacional, é condenar o País à produção de comodities sem valor agregado e abrir as portas para os conglomerados educacionais privados controlados pelo capital estrangeiro: Kroton, Laureate International, dos fundos de investimentos GP, KKR, banco Pátria, Advent International, etc.

Qual foi o plebiscito que estabeleceu que uma reforma da previdência -por mais necessária que ela seja- deveria ser esta que aí está? Qual foi o tema de debate na eleição de Temer que estabeleceu que se deveria asfixiar o Estado por 20 anos para fazer os direitos sociais à Educação, à Saúde e à Segurança Pública serem inviabilizados?

O sofisma por trás da defesa das reformas está em dois pontos.

As reformas são necessárias?  Sim. A crise econômica por um lado, a viabilidade da previdência por outro, demonstram a necessidade de reformas.

Mas a questão é saber como.

A PEC 050 condenou o País a 20 anos de asfixia. 
Claro que o setor empresarial, nos mais diversos ramos da economia, aplaude.
Não vai haver dinheiro para educação, então será necessário privatizar o ensino em todos os níveis. Não vai haver dinheiro para a Saúde, e o cidadão ficará mais exposto à voracidade dos planos de saúde privados. Não haverá dinheiro para infraestrutura e mais estradas serão privatizadas reforçando esta vergonhosa prática da bitributação. 

Veja a título de exemplo, a tese do PSDB e do Governo Temer (veiculada em propaganda do governo) de que a telefonia é o exemplo de que a privatização foi a causa da expansão da oferta de telefones é simplesmente mentirosa. A causa do aumento da oferta de telefones foi a disruptura tecnológica com a implantação da tecnologia do telefone celular.  É muito mais barato construir uma torre de celular do que cabear uma cidade. Portanto, há uma mentira sendo repetida há décadas insistentemente por todos, de comentaristas de economia a políticos privatistas.

A reforma da previdência ao exigir 49 anos de contribuição para a aposentadoria integral comete dois erros crassos. Primeiro incentiva a entrada de trabalhadores com 14 anos no mercado de trabalho. Ora, esta é a contramão da sociedade do conhecimento, pois desincentiva a formação de mão de obra especializada, desincentiva o estudo e o aperfeiçoamento de mão de obra especializada, e pune quem estuda.

Por outro lado, não resolve o problema de caixa da previdência, - a não ser por apostar na morte prévia do aposentado - pois o valor arrecadado por trabalhadores sem qualificação e de baixa renda não pagará a sua aposentadoria final. Claro, a menos que a estratégia seja exigir a entrada prematura para que o trabalhador brasileiro seja condenado ao salário mínimo.

A posição editorial do jornal o Estado de São Paulo é a mais vil possível: em editorial em primeiro de setembro de 2016 o jornal bate no peito e se arvora em defender a posição de homens de bem, que não aceitam a corrupção, agora estão dispostos a aceitar a corrupção do governo Temer. É uma irresponsabilidade e uma indecência. Mas ambos os jornais estão equivocados em defender as reformas propostas que são tudo, menos modernizantes.

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